Novas cervejas sem álcool e mais magras tentam conquistar esportistas
A busca por hábitos mais saudáveis tem impactado um mercado que não costuma ser associado a isso, o da cerveja. Começam a surgir no Brasil opções para atender a pessoas que mantêm um estilo de vida mais esportivo, mas que querem consumir a bebida que faz parte dos encontros sociais. Entre as novidades, estão cervejas com menos carboidratos e calorias, sem glúten ou sem álcool. Esse movimento já é uma realidade nos últimos anos em mercados como o dos Estados Unidos e em países da Europa.
Mercado a ser explorado “Essas cervejas entram como uma alternativa. Menos álcool, menos calorias, justamente para quem está preocupado com o estilo de vida mais saudável. É um grande segmento de mercado a ser explorado”, afirma Alan Kuhar, professor de Marketing da ESPM. O objetivo é atingir um público mais saudável e que pratica atividades esportivas. Um estudo da Asics no Brasil, conduzido pela consultoria Grupo Croma, registra que apesar da diminuição das práticas esportivas em 2020, as pessoas já aumentaram a frequência das atividades ao longo deste ano. Cerveja com pouco carboidrato e caloria.
O impacto desses novos hábitos pode ser visto, por exemplo, em movimentos de grandes cervejarias como a Ambev que trouxe ao Brasil a Michelob Ultra.
Ela se apresenta com uma cerveja com pouco carboidrato, até 80% inferior a cervejas regulares no mercado, e também com baixas calorias, 79 em cada long neck de 355 ml – uma cerveja normal tem em torno de 150 calorias.
A marca é a aposta mundial da cervejaria no intento de falar com esses consumidores. A Michelob substituiu, por exemplo, a Budweiser como marca oficial da liga americana de basquete NBA, e apresentou o ex-velocista e campeão olímpico como Usain Bolt como garoto-propaganda.
Aqui, a marca esteve presente na Maratona do Rio, em novembro, e anunciou o Espaço Michelob Ultra, no parque Ibirapuera, em São Paulo, com uma série de treinos.
Bebida sem glúten
Outra opção da cerveja mais saudável, também da Ambev, é a Stella Artois Sem Glúten, lançada em 2020 e que acaba de ganhar distribuição nacional.
Com a versão, a cervejaria atende tanto a pessoas intolerantes a esse tipo de proteína quanto quem opta por uma dieta mais leve. De acordo com Felipe Cerchiari, diretor de inovação da Ambev, as pessoas estão procurando cada vez mais opções de bebidas que conversem com o seu estilo de vida e também com diferentes ocasiões de consumo.
Segundo ele, a ideia é atender ao consumidor que busca um estilo de vida equilibrado.
69 calorias por garrafa pequena
A Heineken também disputa esse espaço com a versão zero álcool, lançada no ano passado, com 69 calorias por long neck e 74 por lata. Embora o rótulo entre também em outras ocasiões de consumo, como a direção responsável, a fronteira do esporte e do pós-treino também está na estratégia e na comunicação.
“A ideia é que a gente também tenha algumas plataformas e iniciativas nessa área de bem-estar, seja corrida ou outros tipos de esporte”, afirma Priscila Fins, gerente de Marketing da marca Heineken”
Distribuída inicialmente no Sul e Sudeste, a versão deve entrar em outras regiões até o fim do ano.
Cervejas artesanais
As cervejas artesanais também estão buscando o consumidor saudável. O Centro Europeu, que oferece o curso de Beer Sommelier – Home Brewer há oito anos, tem sentido essa demanda por parte dos alunos. As cervejas saudáveis e sem álcool entraram no projeto pedagógico das aulas.
“Percebemos que essa questão de ter cervejas com baixas calorias, sem glúten ou sem álcool e com alinhamento mais saudável não é mais uma tendência, é uma realidade. No final do curso, quando fazemos produção de cervejas e o aluno leva para a sua casa, já tem dois anos em que eles solicitam produtos nessa linha”, declara Rogério Gobbi, diretor acadêmico da instituição”
É acompanhando essa demanda que a Alright, de Curitiba (PR), está processando o seu primeiro rótulo com baixa caloria, uma witbier feita com casca de laranja e semente de coentro, que já tem fila de espera, segundo Marcos Marcelino, mestre cervejeiro da marca.
Ele conta que a empresa fica em uma rota ciclística e ponto de parada também de corredores, daí os pedidos por novidades mais saudáveis. Para o ano que vem, a empresa já tem o projeto de desenvolver uma opção sem álcool, a segunda mais pedida dentro dessa linha.
Outra marca que tem investido nisso é a Roleta Russa, que no começo do ano lançou uma IPA (Indian Pale Ale) sem álcool, sem glúten e com baixa caloria (79 por lata de 350 ml).
Apresentado como “o café da manhã dos campeões”, o rótulo é divulgado também com uma bebida isotônica, conceito já fortemente trabalhado em mercados como o europeu. Na Alemanha, por exemplo, marcas como Paulaner e Erdinger exploram essa característica para as suas versões sem álcool.
Aqui, a Roleta Russa contou com ações de divulgação em academia de musculação em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, onde é produzida.
“Fizemos isso para difundir o produto justamente para quem tem um estilo de vida ativo, que faz dieta, atividade física, mas não somente por questões de não ter álcool e não ter glúten. Cervejas sem álcool têm grande ação isotônica, com muitos nutrientes, sais e minerais. Então, ela é também ótima para a reposição hídrica do corpo”, afirma Jéssica Lopes, sommelier da marca”
Segundo ela, o sucesso foi tanto que o segundo lote precisou ser antecipado.
O que pensam consumidores
Para Juliana Mattos, gerente de vendas e praticante de crossfit, contar com bebidas que ajudam a manter o foco é uma ótima alternativa.
“Fazendo dieta e pegando mais pesado nos treinos, ela escolheu uma cerveja low carb. “Consigo consumir sem comprometer os meus treinos e sem peso na consciência”
Rodrigo Ruiz, economista e adepto de musculação, encontrou em uma cerveja zero álcool a melhor solução para equilibrar a dieta com os momentos entre amigos.
“Ajuda na parte da socialização e ao mesmo tempo faz sentido para esse momento em que estou em uma dieta”
Segundo ele, que já havia provado outros rótulos, encontrar uma opção sem álcool de qualidade “abriu uma nova porta” no consumo. “Se não é uma cerveja de qualidade, prefiro tomar outra bebida”, diz.