O Cultivo de Lúpulo no Brasil

O cultivo de lúpulo no Brasil, contrariamente do que muitos pensam, possui a primeira tentativa de plantio reportada em 1867, com a importação de 1000 plantas da Bélgica. Estas mudas foram distribuídas e espalhadas pelo território nacional , mas não despertaram interesse dos agricultores.

A fim de aumentar o interesse nesta cultura, em 1869, nosso Imperador Dom Pedro II, sendo um visionário, e não contente com a dependência de importação deste importante ingrediente para a indústria cervejeira, fomentou a produção, e ofereceu premiação com uma medalha de ouro do Ministério da Agricultura, ao primeiro que conseguisse estabelecer esta cultura em nosso território.

                Foram novamente importadas 3000 mudas, de 3 diferentes cultivares, e novamente foram distribuídas a agricultores e interessados nessa cultura.

                Incrivelmente, está descrito que 50 mudas, plantadas numa chácara, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro prosperam.

                Após isso, provavelmente por protecionismo extrangeiro, foi amplamente difundido que o cultivo do lúpulo, fora de zonas temperadas, ou seja, mais frias, seria impossível.

                Ao longo do tempo, grandes pioneiros, curiosos e aventureiros desafiaram este pensamento e seguiram cultivando esta importante cultura no território nacional, sem muito conhecimento ou ajuda.

                Recentemente, o cultivo do lúpulo no Brasil vem se mostrando uma interessante alternativa para agricultores. A APROLÚPULO, associação dos produtores de lúpulo, com muito recente fundação, foi um passo importante para estabelecer este cultivo no território nacional. Além de ser importante fonte de informação aos produtores de nosso país, mais recentemente, esta associação vem ganhando força, inclusive com a participação de importantes encontros do setor cervejeiro, com a presença de ilustres membros do Ministério da Agricultura.

                Infelizmente, em nosso país, nem tudo anda da forma como deveria. Nos outros países do mundo, durante a entre-safra, produtores de lúpulo vendem seus rizomas de forma a gerar renda, em momento onde não possuem mais flores para venda.

                Na contra mão deste movimento centenário, é pregado pelas redes sociais, inclusive por membros da Aprolúpulo, que a venda de mudas somente poderá ocorrer por intermédio de viveiros cadastrados, o que seria, nas palavras deles, uma infração legal passível de multa.

                Tal fato é uma inverdade. A lei é clara quanto a produção e venda de mudas entre grupos especiais, como é o caso de Agriculores Familiares. Ao invés de esclarecer fatos, e defender e promover os pequenos agriculores, a associação presta um desserviço, gerando um desmedido protecionismo aos viveiristas.

                Aqui esclarecemos um fato que é corriqueiramente mal interpretado. Existem mudas legalizadas, as quais são vendidas por viveiros ou entre os mencionados grupos especiais, com emissão de Nota Fiscal e recolhimento de impostos. Por outro lado, mudas vendidas sem nota fiscal são de fato ilegais.

                Outro aspecto seria a certificação das mudas. Apenas viveiros cadastrados poderão fazer a venda de mudas com certificação de origem. Os outros grupos, podem vender mudas legalmente entre si. Fazendo analogia com o mercado de animais, apenas canis podem vender cães com pedigree, grupos especiais podem vender cães, mas não emitem pedigree.

                É normal que os grupos tenham a tendência de defender e protejer seus interesses. Entretanto, não se pode criminalizar a venda de um produto, que está claramente descrito na lei como legal sua venda. Para minimizar este efeito, os viveiristas deveriam cobrar um valor de muda condizente com a realidade dos pequenos agricultores, e nunca estabelecer quantidades mínimas de mudas. Desta forma, o livre mercado funciona e se auto regula, como ocorre em outras partes do mundo.

                Continuaremos a produzir flores e mudas de lúpulo, com respeito a legislação e recolhimento de impostos, e acima de tudo, respeitando o meio ambiente, ao abolir o uso de inseticidas e fungicidas.

                A produção de lúpulo nacional é sim possível. É uma planta linda e incrível. O uso das flores frescas, ao invés de pellets, gera distribuição de renda e valoriza a indústria agrícola nacional. Mais que tudo isso, o uso de lúpulo fresco é um grande diferencial, e ajuda a transformar a sua cerveja em uma goumet inigualável.

Boas cervejas!!!

Lúpulo da mata

@lupulodamata

Leonardo Arruda

– Biólogo

– Mestre em Farmacologia pela UNICAMP

– Doutor em Patologia pela FIOCRUZ / UFBA

                Atualmente dedicado exclusivamente a conservação de florestas nativas e ao cultivo de lúpulo de forma tradicional, familiar e artesanal.

Referencias bibliográficas:

Revista Agrícola do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, Setembro de 1869. “Introducção do lúpulo no Rio de Janeiro pelo Sr. commendador Antonio José Gomes Pereira Bastos.”

Lei Federal n° 10711 – De 05 de agosto de 2003 – “Dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas”.

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